A cultura Organizacional como fator de adoecimento
Saúde no trabalho, ou em qualquer outro ambiente, significa, inclusive para a OMS (Organização Mundial de Saude), um completo bem-estar, físico, mental e social.
Especificamente quanto a saúde mental, que é meu foco de trabalho, afirmo que ela se dá quando o homem consegue confrontar e resistir as agressões e os ataques dirigidos a ele diante da pressão laboral e da cultura organizacional. Uma vez essas resistências sendo abaladas, o corpo do trabalhador, que é seu único instrumento de trabalho para trazer recursos para sua subsistência, estará sob ameaça, sua capacidade produtiva.
A cultura organizacional, suas nuances e emaranhados, bem como a própria organização do trabalho podem ser fatores que desencadeiem conflitos no trabalhador e estes potencializem efeitos patogênicos da problemática psicossomática. A falta da expressão da personalidade no ambiente de trabalho, segundo autores, causam depressão, tensão nervosa permanente, e muitos sob pressão hesitam em abrir-se com alguém sobre os sentimentos que estão sendo vivenciados, reprimindo-os. O lema nas empresas, é que o trabalhador seja altamente adaptável, suportando as adversidades, recriando-as e assim ser bem-sucedido na sua vida organizacional.
Assim, o sofrimento do trabalhador é intrínseco, tornando-se extrínseco somente quando eventos como ausências frequentes no trabalho, baixa na produtividade, insegurança nas decisões, sobrecarga voluntária no trabalho, aumento de consumo de cigarros, alimentos, drogas e uso abusivo de medicamentos são deflagrados. Nesse sentido, o trabalhar deixa de ser uma atividade prazerosa, tomando contornos que se assemelham a sentimentos de estar aprisionado, insatisfeito, incompleto, incapaz.
A Cultura a Organizacional, a divisão do trabalho, o modelo de gestão adotado por muitas lideranças, as práticas e rituais que muitas vezes são invisíveis, mas perceptíveis pelo trabalhador, tem sido fatores de estresse no trabalho, causando alienação e impossibilidade da utilização da capacidade criativa das pessoas. Observei nos atendimentos realizados com Executivos de grandes Empresas ao enfrentarem situações de estresse, caminham por desenvolver fortes sensações de insatisfação por não serem reconhecidos na medida em que seus esforços são apresentados, caracterizando baixa estima, sentimentos de alheamento, falta de poder.
Alguns destes apontaram predisposição para fatores de risco no sentido de desenvolverem problemáticas coronárias. Também observei dos atendimentos realizados, e nestes casos dirigi maior atenção, frente aos quadros dos quais os pacientes apresentavam grande conflito entre a obtenção e solução e satisfação de suas necessidades de poder e grande ânsia por conquistas em prazos razoáveis. Nestes casos, pude trabalhar a dificuldade desses pacientes enxergarem que fatores relacionados ao sistema, a cultura organizacional e os seus entraves, como fatores a serem considerados como responsáveis pelo não êxito atingido.
Mais uma vez percebe-se o quanto a cultura pressiona o profissional a buscar adaptação às suas exigências, e como o corpo, o organismo busca entrar nesse estado de equilíbrio. Profissionais que aspiram por grandes conquistas e resultados em espaços de tempo muito curtos, que reprimem seus sentimentos de insegurança e frustação, podem consequentemente e invariavelmente evoluírem para quadros psicossomáticos.
A psicoterapia pode auxiliar muito nesses casos, com intervenções individuais, junto a esses profissionais. Também a psicologia pode instrumentar as Organizações a trabalharem melhor seus ambientes de trabalho, construindo um clima, uma cultura e práticas de gestão mais humanizadas a fim de harmonizar as relações e os propósitos organizacionais serem melhor percorridos.