EMDR: lembranças do silêncio
Há muitos anos nós psicólogos fomos treinados desde o método psicanalítico que a “cura” advém do falar. Uma vez, ao visitar um amigo teólogo e também psicólogo, estava carregando embaixo do braço um livro intitulado ” A cura pela fala”. Fui abordado por ele que me disse, apontando para o livro: “- Será mesmo que a cura é pela fala ou é pelo ouvir”? Fiquei pensativo, uma vez essas palavras terem mexido comigo.
Com o EMDR a fala pode ser mínima durante o período de reprocessamento cerebral, o que permite que o paciente possa trabalhar suas lembranças em silêncio. Levando-se em consideração que muitos traumas são de caráter terrorífeco ou humilhante, não ter que entrar em detalhes muitas vezes permite que o paciente enfrente a lembrança sem tanta vergonha. A resolução da dificuldade se dá pela integração da informação neuronal inicialmente dissociada nos hemisférios cerebrais.
Lembranças dolorosas são arquivadas no hemisfério direito e sabemos que a fala (área de Broca) que permite a atribuição de sentido ao evento está no hemisfério esquerdo. A lembrança está desvinculada daquilo que poderia permitir ao paciente descrever em palavras o que lhe aconteceu, portanto, mesmo que o paciente quisesse não conseguiria trazer sentido (“não tenho palavras para lhe explicar o que me aconteceu” ) É um discurso comum entre pessoas traumatizadas. Há lembranças que estão desvinculadas do sistema límbico e o paciente vive em um eterno estado de ansiedade e perigo sem saber por que e sem poder explicar para o seu cérebro que o perigo passou.
A terapia EMDR integra essas informações e permite ao paciente atribuir sentido ao ocorrido e acalmar um sistema límbico atordoado. Ouço de pacientes ao terminar um reprocessamento “Acabou. Agora ficou distante. Está no passado.” Quando voltam nas sessões seguintes dizem: – Lembro, mas não me incomoda mais. – Já não consigo me lembrar do jeito que era antes.